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Michelson Borges fala sobre música

Palestra realizada por Michelson Borges, jornalista e mestre em teologia, no XVIII Encontro de Músicos Adventistas no UNASP campus Engenheiro Coelho, em 21/1/2012. Confira!



The Nebblett Family

A família Nebblett faz da música sacra um canal de esperança a outras famílias, dedicando vozes e instrumentos à glória de Deus e à pregação do evangelho. Aproveite!




The Pelonite Singers

O grupo vocal The Pelonite Singers produz música acapella na República da Zâmbia. Nos vídeos a seguir, encontramos equilíbrio entre originalidade, alegria e reverência. Aproveite!



Reggae Music


Meu contato com a música reggae ocorreu no período em que atuei profissionalmente como baixista. Os repertórios de música pop traziam canções de artistas de reggae mundialmente conhecidos como Bob Marley, The Wailers, Ziggy Marley, Inner Circle, Jimmy Cliff e Peter Tosh. Noutros projetos voltados à MPB, tocávamos músicas de Gilberto Gil, Chico César, Paralamas do Sucesso, Cidade Negra, Tribo de Jah, Natiruts, O Rappa e outras, todas temperadas com o ritmo jamaicano. 

No reggae, há uma característica sonora marcante, evidente até mesmo para leigos: a repetição. Há um acento rítmico executado pela guitarra, violão, teclado ou ukulele, que se repete por toda a música, pronunciando acordes somente no segundo e no quarto tempos do compasso

O contrabaixo traz sempre uma equalização excessivamente grave, realizando linhas melódicas pesadas e igualmente repetitivas. Nos shows de reggae, essas frequências graves são intensificadas ainda mais pelo volume dos amplificadores, fazendo com que os ouvintes literalmente “sintam” a música pelas vibrações das notas do contrabaixo. Esse e outros elementos sonoros colaboram para a movimentação do corpo e para a inibição da razão. 

Há também muito misticismo implícito na música reggae. O Ph. D. Wolfgang Hans Martin Stefani, que é músico, pastor e professor especialista na área da música sacra, traz uma interessante citação em seu livro Música Sacra, Cultura e Adoração. Stefani define o reggae caribenho como um ritmo secular que consiste em: “(...) uma imitação do batuque religioso rastafári conhecido como ‘música Nyabingi’” [1]

O consumo livre de maconha, associado à música e à busca por estados alterados de consciência, é outro elemento característico nos círculos musicais, ensaios, camarins ou entre o público dos shows de reggae. Muitas canções fazem apologia ao uso da droga. 

Na cultura reggae, o estado de inibição da razão despertado pelo ritmo hipnótico e pelo consumo de maconha é aceito como meio de contato com o sagrado, e como um despertamento para o conhecimento maior.  

“A música reggae surgida na Jamaica, era uma expressão mística do rastafarianismo, movimento político-religioso, também de caráter étnico, surgido na Jamaica, que a partir de sua luta contra a ‘estrutura escravista britânica’ reinterpretou a promessa bíblica da Terra Prometida, localizada agora na ‘Etiópia/África’. O reggae está profundamente ligado com substâncias alucinógenas, produtoras de ‘estados de consciência’, que, por sua vez ‘são ao mesmo tempo fonte de conhecimentos e comunicação com o sagrado, provocados não só pela música como pela erva, pelo contato com elementos da natureza, pelos sonhos e pelas visões’” [2]

Ivor Myers, ex-astro de hip-hop, nasceu na Jamaica e é autor do livro NOVO RITMO, onde descreve sua trajetória de renúncias à fama e à fortuna em submissão à vontade de Cristo. Sobre a religião rastafári, Myers escreve: 

“Essa religião peculiar ensina que o ex-imperador da Etiópia, Hailé Selassié I, era a manifestação de Deus no século 20. Surgira como um grito rebelde dos escravos jamaicanos e cresceu para se tornar uma das forças religiosas dominantes do mundo do hip-hop. O rastafarianismo usa a maconha como chave para a meditação e a comunicação mais intensa com Deus. As mechas de cabelo trançadas são o símbolo da religião. Suas raízes se fundamentam nos ensinos de Marcus Garvey, um nacionalista jamaicano negro que ensinava o poder dos negros e iniciou o movimento ‘De Volta à África’, no início dos anos 1900. Marcus Garvey propagava a ideia de que um rei negro seria coroado e se tornaria o libertador da raça negra. Muitos acharam que a profecia se cumprira quando, em 1930, Ras Tafari foi coroado como o Imperador Hailé Selassié I da Etiópia e proclamado como ‘Rei dos reis’, ‘Senhor dos senhores’ e ‘Conquistador Leão de Judá’, alguns de seus títulos. O movimento rastafári tira seu nome da combinação do vocábulo Ras, que significa ‘Cabeça’, ‘Duque’ ou ‘Chefe’, com a palavra Tafari Makonnen, que é o nome de Hailé Selassié I antes da coroação”. [3] 

Em entrevista concedida à revista High Times em 1981, o cantor de reggae Peter Tosh fez a seguinte declaração: 

“[a] espiritualidade e a inspiração são decorrentes da capacidade do reggae de ‘hipnotizar’ e fazer o ouvinte ‘sair de si’, isto é, a música é capaz de provocar no ouvinte o acesso a outros ‘estados de consciência’.” [4] 

Nunca experimentei maconha, apesar de estar frequentemente cercado de pessoas que consumiam a droga. Tocar reggae era agradável, mas tornava-se monótono depois de alguns minutos, justamente devido à repetição excessiva no ritmo conduzido pelo baixo. É algo literalmente “hipnótico”. 

Em 16 de novembro de 2008, o jornal britânico The Guardian trazia uma matéria sobre música e drogas, onde o autor Kevin Sampson apontava aspectos peculiares da cultura reggae

"Reggae era cadenciado e gentilmente magnético, como se houvesse sido criado pela erva daninha que inspirou sua forma e teologia. O reggae rapidamente se tornou a trilha sonora de uma jovem Jamaica cada vez mais politizada. Com a chegada de bandas como The Pioneers e The Wailers (com Peter Tosh e Bob Marley), a nascente cena reggae começou a abraçar temas sociopolíticos e religiosos e, particularmente, a crescente influência do Rastafarianismo sobre a juventude jamaicana. O fumo de cannabis em sua forma mais pura [...] tornou-se uma parte tão intrínseca da trindade sagrada Rasta, quanto a bandeira etíope e o skank irregular da guitarra base do reggae [ritmo repetitivo que acentua acordes nos tempos fracos do compasso]. Para os Rastas, o fumo de erva ou ganja é um ato espiritual, muitas vezes, um acompanhamento para a leitura da Bíblia, com o reggae sendo o contratempo musical para ambos, religião e modo de vida."[5] 

Podemos concluir que as características deste gênero musical apontam para uma direção contrária aos princípios estabelecidos por Deus em Sua Palavra para a nossa saúde e espiritualidade. Deus espera de nós um culto racional, onde devemos orar e cantar com a nossa inteligência. 

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias do nosso Deus, que apresenteis vosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” – Rom. 12:1 

“Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.” – I Cor. 14:15 

Deus jamais orientou Seu povo no uso de substâncias tóxicas como bebidas fortes ou drogas alucinógenas na busca por crescimento espiritual. 

O mesmo princípio se aplica à música. Nenhum ritmo que é aceito e utilizado como meio para hipnotizar ou para alcançar estados alterados de consciência poderá nos aproximar de Deus, mesmo que essa mesma música apresente um texto sacro. E, infelizmente, não faltam exemplos de arranjos de reggae na música cristã contemporânea.



[1] Barret, The Rastafarians, p. 245; citado em: Stefani, Música Sacra, Cultura e Adoração, p. 133.
[2] Cunha, Fazendo a coisa certa: Reggae, rastas e pentecostais em Salvador, disponível em: http://musicaeadoracao.com.br/20217/a-musica-sacra-dentro-da-cosmovisao-adventista-parte-1/#_ftn9
[3] Ivor Myers, Novo Ritmo: A história de um ex-artista de hip-hop. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012. (p. 43 e 44)
[4] Cunha, Fazendo a coisa certa: Reggae, rastas e pentecostais em Salvador, disponível em: http://musicaeadoracao.com.br/20217/a-musica-sacra-dentro-da-cosmovisao-adventista-parte-1/#_ftn9
[5] Disponível em: http://www.theguardian.com/society/2008/nov/16/drugs-music-link


“A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano e o farão distinguir entre o imundo e o limpo.” – Ezequiel 44:23

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