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Movimento Emergente. O que exatamente está “emergindo”?

por: Pr. Douglas Reis

"Durante o culto, a congregação canta músicas com estilo pop endereçadas a Deus e fortemente temperadas com as palavras 'eu', 'você' e 'amor'. No sermão, o pastor pode falar sobre 'se apaixonar por Jesus'. Com ou sem a analogia romântica, o pregador gastará algum tempo sobre o tópico do amor de Deus. Mesmo em igrejas teologicamente conservadoras, você não ouvirá muito sobre culpa, sofrimento ou julgamento. Alguns pastores descreverão a vida de fé como uma 'busca' ou uma 'jornada', levando a pensar que a inquietude constante seja o marco da espiritualidade autêntica. Um membro da congregação pode contar a história de sua jornada de fé durante a liturgia. Mesmo em denominações protestantes, há muito conhecidas por suspeitas quanto à idolatria, você pode contar que estará presenciando algo visual, dramático ou até elementos ligados ao entretenimento na liturgia do culto. Seria algo como uma apresentação musical, uma encenação, um vídeo ou talvez uma liturgia elaborada, designada para apelar aos sentidos. Poderia até mesmo ser apenas uma história vívida ou o uso de humor no sermão. Pergunte aos membros regulares e eles lhe dirão alegremente suas partes favoritas do culto, do mesmo modo como eles falam sobre seus filmes, música e programas de televisão preferidos. Mesmo se a igreja oficialmente censura a combinação entre entretenimento e adoração, seus membros ainda tendem a se comportar como espectadores." Thomas E. Bergler, The juvenilization of american christianity (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishing, 2012), p. 1, 2.


O que exatamente está “emergindo”?

Nas últimas décadas, cresceu a preocupação entre os evangélicos em evangelizar as gerações emergentes. Em princípios da década de 1990s, surgiu o movimento da igreja emergente, que passou a substituir a “febre” das megaigrejas. Em parte, o movimento anterior, liderado por pastores como Bill Hybels (Willow Creek), já havia pavimentado o caminho para um cristianismo alternativo: seus ministros descobriram que o crescimento da igreja não era tão afetado pela pregação quanto por um tipo de serviço musical de orientação carismática. Assim, tencionavam atingir pessoas secularizadas.

Posteriormente, o estilo de louvor musical se tornou a marca da igreja emergente. Mas essa não é a única razão de sua expansão: o movimento cresceu graças à sua percepção a respeito das transformações culturais que o ocidente atravessa. Justamente nesse aspecto, nos deparamos com outro fator que preparou o caminho para a igreja emergente – a falta de respostas cristãs aos desafios intelectuais surgidos ao longo do século XX:

Na falta de respostas intelectuais à ciência moderna e aos desafios filosóficos às Escrituras, os líderes neoevangélicos crentes na Bíblia progressivamente acomodaram interpretações e ensinos da Bíblia aos ditames da ciência e cultura popular nas áreas de teologia, doutrinas, ministério e serviço de adoração. Aos poucos, os neoevangélicos encararam a secularização ao adotarem a modernista visão neo-ortodoxa da Escritura e secularizarem o louvor congregacional e a liturgia.

Atualmente, o movimento emergente representa “uma inquestionável voz dentro do cristianismo”, apesar de sua falta de homogeneidade. Sob o seu “guarda-chuva”, a designação ‘igreja emergente’ abriga movimentos e líderes cujas teologias e práticas ministeriais diferem umas das outras. Basicamente, o que une o movimento é a preocupação em atingir pessoas jovens, sem conhecimento bíblico ou filiação a uma igreja. Ou seja, “ao menos em princípio, se trata de uma igreja dirigida a jovens norte-americanos menores de 30 anos que não estavam vinculados a nenhuma igreja”. Esses cristãos, conhecidos como pós-evangélicos, não temem quebrar paradigmas – afinal, seu referencial são os novos tempos: “Evangélicos pensam sobre inteireza e credibilidade de sua fé na cultura do modernismo; pós-evangélicos pensam sobre inteireza e credibilidade de sua fé na cultura do pós-modernismo.”

Os esforços do movimento emergente visam a atrair um público tão envolvido com as novas tecnologias que dormiria em um culto cristão tradicional! O teólogo adventista Daniel Oscar Plenc assim caracteriza a metodologia dos emergentes:

O enfoque dessas igrejas está nos relacionamentos e se escolhe um aprendizado baseado na “narração”, as histórias simples, a imaginação e a “desconstrução” do dogma cristão. Em realidade, querem desconstruir a fé cristã. O que está claro é que a doutrina e a teologia perderam sua importância e que tudo o que pareça institucional lhes “soa” mal.

O sermão deixa de ser o ponto alto do serviço religioso. “A mensagem das Escrituras é comunicada por meio de um conjunto de palavras, artes visuais, silêncio, testemunho e histórias e o pregador é um motivador, que encoraja pessoas a aprender das Escrituras ao longo da semana.” As reuniões podem acontecer em igrejas ou lugares inusitados, como sótãos, garagens e bares – Theology Pubs. Para os emergentes, “o que se constituía uso apropriado das escrituras no período moderno não é mais uso apropriado no período pós-moderno”. Em partes, isso implica que temas controversos, como homossexualidade, ou que compõem a pregação tradicional cristã, como arrependimento, ira divina, julgamento, não são tratados pelos líderes emergentes.

Sua liturgia é bem eclética, incluindo “do rock and roll pesado aos hinos tradicionais, rituais antigos, disciplinas espirituais, estações cristãs e tradições judaicas”. Sobra espaço para contemplações místicas e expressões artísticas. A crença da igreja emergente é que Deus está presente em todas as manifestações da cultura. Desse modo, ocorre uma sacralização da cultura. A conexão com Deus ocorre por meio de “formas materiais, na cultura e na natureza”. Esse novo paradigma faz da adoração – em suas múltiplas formas – algo como a visão católica do sacramento. A pregação bíblica deixa de ser o elemento que leva à conexão com Deus, como na Reforma Protestante.

Aliás, D. A. Carson compara oportunamente o movimento emergente com a reforma protestante: os reformadores clamavam por mudanças, “não por perceberem que novos desenvolvimentos ganhavam terreno na cultura, sendo que a igreja estivesse chamada a se adaptar ao novo perfil cultural”; eles “perceberam que nova teologia e práticas se desenvolveram na igreja contrapondo a Escritura e, por conseguinte, tais coisas necessitavam ser reformadas pela Palavra de Deus”. Os líderes do movimento emergente “desafiam […] algumas das crenças e práticas do evangelicalismo” em nome de mudanças culturais, levando a um novo tipo de reforma, condicionado pela mentalidade dominante.

A revolução proposta pelos líderes do movimento emergente afeta “crenças evangélicas (teologia), identidade eclesiológica (renovando o centro do movimento evangélico) e práticas ministeriais (adoração)”, aculturando o cristianismo evangélico à mentalidade dominante (pós-moderna). Coerentemente com sua proposta liberal, o movimento adotou o método histórico-crítico de interpretação bíblica.

Em busca de alternativas bíblicas 

Lidar com questões contemporâneas exige muita cautela. Os desafios despertados não podem ser tratados de uma perspectiva pragmática e utilitarista. A igreja não deve aderir à ética terrorista, a qual advoga que “os fins justificam os meios”. Afinal, a maneira utilizada para atingir pessoas acabará repercutindo na imagem que elas terão da causa do mestre. Afinal, cristianismo sem discipulado não pode trazer crescimento espiritual. E o discipulado é a essência da grande comissão (Mateus 28:18-20).

Nesse sentido, Ellen G. White adverte os obreiros que:

“[…] enquanto estão trabalhando incansavelmente para cativar os ouvintes e manter seu interesse, simultaneamente eles deveriam cuidadosamente se guardar contra qualquer coisa que beire o sensacionalismo. Nessa época de extravagância e apresentações incomuns, quando homens pensam ser necessário fazer algo para garantir o sucesso, mensageiros são escolhidos por Deus para mostrar a falácia de gastar meios desnecessários para impressionar. Tanto quanto eles trabalhem com simplicidade, humildade, dignidade graciosa, isentos de qualquer traço de natureza teatral, seu trabalho deixará uma eterna impressão em prol do bem.” Ellen G. White, Testemonies for the Church, vol. 9, p. 110.

Textos extraídos do capítulo 17 do livro “Explosão Y – Adventismo, pós-modernidade e gerações emergentes” de autoria do Pr. Douglas Reis.

Acesse Música Sacra e Adoração e tenha acesso a esse capítulo na íntegra, incluindo as referências bibliográficas.

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