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Há significado e forma para adoração?

Lilianne Doukhan nasceu na Suíça e começou a estudar piano aos quatro anos de idade, em Viena, Áustria. Recebeu o Primeiro Prêmio em Performance de Piano no Conservatório Nacional de Estrasburgo. Obteve um mestrado em Ciências Humanas (Universidade de Estrasburgo, França), bem como em Música (Andrews University), e possui um Ph.D. em Musicologia pela Michigan State University. Realiza palestras e oficinas de música sacra em todo o mundo, trazendo uma experiência de vida multi-cultural em seu ensino. É autora do livro In Tune with God e atua como editora de uma coleção de artigos sobre adoração.

por: Lilianne Doukhan

Como adoraremos?

Todos nós adoramos de uma maneira ou de outra. Até mesmo aqueles que não acreditam em religião adoram. Eles adoram ídolos do esporte, da música ou o dinheiro. Fomos criados para a adoração. A criação de Adão e Eva por Deus no sexto dia, o dia que precede o sábado, tem um significado teológico e sociológico profundo. O Criador pretendia que na vida dos seres humanos a adoração tivesse prioridade sobre qualquer outra atividade humana. É essa prioridade que exige dos seguidores de Deus que eles não só adorem, mas também o façam da maneira certa. O fato e modo da adoração não podem ser considerados irrelevantes. 

Qual é a forma correta de adoração? Há só uma forma ou estilo correto? As formas de adoração mudaram com o passar do tempo? Quem decide que forma ou configuração é a mais apropriada? Pondo de lado as opiniões e preferências pessoais, precisamos descobrir a resposta na Palavra de Deus.

O significado da adoração 

As Escrituras proveem-nos vários modelos de adoração. Um dos mais claros está em Isaías 6:1-8, onde o profeta relata a visão que teve de uma cena de adoração celestial. Esse texto nos apresenta um programa, até mesmo uma ordem de adoração. 

O capítulo tem início com uma visão de Deus em Seu trono celestial, uma visão de beleza, poder, majestade e reverência. Aqui aprendemos primeiramente por que prestamos culto: para responder à presença de Deus e atender Seu chamado à adoração. 

Os Salmos -- textos tradicionais de adoração e louvor de Israel -- nos ajudam a descobrir como adorar: com alegria e reverência. O tema percorre os Salmos e é expresso em frases como: "Venham! Cantemos ao Senhor com alegria! Venham! Adoremos prostrados e ajoelhemo-nos diante do Senhor, o nosso Criador" (Salmo 95:1, 6).

Equilibrar alegria e reverência representa um desafio. Nos serviços de adoração, freqüentemente praticamos uma com exclusão da outra, e de algum modo não descobrimos o modo de combinar as duas. Parece difícil ser reverente e ao mesmo tempo jubiloso. Mas, isto é o que a Palavra de Deus diz que devemos fazer no culto de adoração. 

Além disso, quando vamos adorar precisamos descobrir a quem adoramos. A adoração não é algo que fazemos para nós mesmos. Ela deve ser feita para Deus e a Deus. É uma atividade centralizada em Deus, inteiramente focalizada nEle (veja Salmo 9:1 e 2). Não vamos adorar principalmente para obter bênçãos, para aprender algo ou desfrutar companheirismo. O propósito principal da adoração é ir a Deus, dar-Lhe glória e falar sobre Seus feitos. 

Adorar, portanto, é uma experiência de parceria: Deus, de um lado, inicia o chamado à adoração e o adorador responde ao chamado.

Para que a adoração tenha lugar, é preciso seja ela significativa a ambas as partes. A adoração significativa é agradável a Deus. O Salmo 19 é bem claro nesse ponto: "Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a Ti" (Salmo 19:14). Contudo, com que freqüência esforçamo-nos para agradar a congregação ao planejarmos nosso culto de adoração!

A motivação determina nosso pensamento e organização no que respeita à adoração. A primeira preocupação que devemos ter em nosso coração sempre que lidarmos com formas e formatos de adoração é: "Será que isso vai agradar a Deus?" Quando queremos agradar alguém, tentamos descobrir o que a pessoa é: Qual é o seu caráter? O que ela gosta de fazer? Como ela se relaciona conosco? Precisamos fazer as mesmas perguntas para descobrir o que vai agradar a Deus. As respostas obtidas orientarão nossa busca pelo que é apropriado na adoração. 

A adoração, porém, deve ser também significativa para o adorador. É importante descobrir se o culto de adoração é relevante para nossa congregação, isto é, se ela achará significado nele. Isso nos chama a atenção para a importância dos símbolos. Na adoração, o significado está repleto de símbolos como a Ceia do Senhor, o batismo, a leitura da Bíblia, a oração, a música, a arquitetura, etc. Todos esses são "sinais" importantes para comunicar o significado da adoração, e deveriam contribuir para que ela seja viva e relevante. 

Essa é uma tarefa difícil. E até muito mais difícil é combinar as duas coisas: o que é apropriado e a relevância. Como pode a adoração ser agradável a Deus e, ao mesmo tempo, relevante para a congregação? Como podemos combinar o elemento divino da convocação e o elemento humano da resposta em nossa experiência de adoração?

As formas de adoração

Lilianne Doukhan
O serviço de adoração diz respeito a toda a congregação e não só ao pastor. Nesse aspecto, precisamos educar nossas congregações, bem como os nossos pastores, dirigentes de culto e de música. Nossos dirigentes de culto e de música freqüentemente servem a congregação com seus talentos e sua boa intenção. Os músicos, especialmente os que são treinados em habilidades específicas, devem lembrar-se de que a adoração é um momento muito especial. Nela você não apenas "executa música". Na adoração você não apenas "interage" com a congregação. Não apenas "lê um texto". Você faz todas essas coisas na presença de Deus e para Deus.

A verdadeira adoração, em sua essência e suas formas, começa com o aprender e ensinar sobre ela. A educação, o exemplo, o aconselhamento, o preparo de líderes e da congregação são todos ingredientes nesse processo de aprendizagem.

Aprender sobre a adoração suscita perguntas importantes: Há um estilo ou formato particular que Deus mais aprecia? Há uma maneira melhor de prestar culto? Há um modo para o mundo todo adorar? A Bíblia esclarece que não é tanto o estilo ou formato da adoração em si que importa a Deus. O que Deus está buscando é a condição e a atitude do coração do adorador. A expectativa mais elevada na adoração, aos olhos de Deus, é "um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito" (Salmo 51:17). Deus não aprecia nossos sacrifícios, nossas formas de adoração, quando não encaminhamos a conversa para "praticar a justiça, amar a fidelidade, e andar humildemente com o seu Deus" (Miquéias 6:8).  

É, portanto, a transformação genuína do coração que vai garantir o formato genuíno de adoração. Qualquer formato que utilizemos será destituído de significado se não o fizermos com um coração transformado. Numa corporação global, multicultural, como a Igreja Adventista, onde quer que adoremos, os mesmos princípios devem guiar nossa compreensão do que é a adoração. Derivados da Palavra de Deus, esses princípios são imutáveis e eternos, independentemente de tempo ou lugar. A divergência está em nossas expressões de adoração, no modo como adoramos. Precisamos determinar que atitudes, moldadas por nossa cultura, expressarão melhor a reverência. Aqui a pergunta real é: "Este modo particular de expressão, dentro de dada cultura, será verdadeiramente entendido como expressando reverência a Deus?"

O mesmo é verdade com respeito à alegria. Há modos diferentes de ser alegre. Alguns saltam e gritam, outros são calmamente alegres. Qualquer que seja a cultura em que vivemos, precisamos descobrir o modo mais legítimo de expressar a alegria que procede da adoração bíblica. Que tipo de alegria deveríamos esperar desfrutar na adoração? Há diferença entre o tipo de alegria que experimentamos na adoração e a celebração que fazemos num jogo de futebol ou num evento musical? A alegria proveniente da adoração é muito especial, incomum. Ela é semelhante à nossa alegria humana, mas também muito diferente. O relato feito por Neemias sobre a dedicação dos muros de Jerusalém após o retorno de Israel do exílio, diz que eles estavam contentes "porque Deus os enchera de grande alegria" (Neemias 12:43). Assim, a alegria na adoração é um contentamento concedido por Deus, o resultado de nosso encontro com Ele e daquilo que Ele fez por nós. Nossa busca dessa alegria concedida por Ele é muito importante porque ela amoldará nossas expressões de adoração: a maneira como nos comportamos durante o serviço de adoração, a música que executamos e como executamos essa música. 

Uma das difíceis realidades da adoração é que ela traz consigo uma tensão, como podemos notar, entre o participante humano e o participante divino; entre as expressões de alegria e reverência, e entre o que é apropriado e o que é relevante. Essa é uma tensão saudável porque constantemente nos desafia em nossa adoração. Ela requer que não poupemos esforços para encontrar um equilíbrio sadio entre os dois elementos. Essa tarefa não pode ser feita por uma única pessoa; ela envolve toda a congregação para assegurar que nossa adoração seja agradável a Deus. 

Sob a perspectiva dessa tensão, qualquer discussão sobre formas e formatos de adoração toma uma nova direção. A questão não é mais escolher entre estilos -- o que poderia significar que há alguns estilos melhores do que outros -- mas fazer escolhas dentro de um determinado estilo. Uma multiplicidade de estilos e adoração está disponível e dentro de cada estilo devemos escolher os elementos que adequadamente transmitem os verdadeiros valores da adoração.

Formas e formatos não são a meta ou o propósito da adoração. Eles são agora resultados e conseqüências de nossa reflexão sobre adoração. A essa altura, novas perguntas surgirão e orientarão nossa busca da verdadeira adoração:

  • Como podemos captar o senso de santidade na adoração? 
  • Como podemos moldar o serviço de adoração, de forma que o adorador seja conduzido a concentrar-se em Deus, em vez de na música ou na pregação? 
  • Como podemos expressar alegria e reverência na adoração e manter o equilíbrio entre as duas? 
  • Que expressões de adoração podem ajudar os membros da congregação a se tornarem melhores praticantes de sua fé, ou seja, exercer misericórdia e justiça, os sinais da verdadeira adoração? 
  • Como o serviço de adoração pode comunicar nossa mensagem ao mundo? 

Precisamos reaprender como adorar. O segredo para conseguir isso é reaprender como nos ligarmos a Deus em um nível pessoal. A adoração corporativa principia no nível pessoal. À medida que aprendermos a conhecê-Lo melhor e como nos aproximarmos dEle, à medida que aprendermos a maneira de nos dirigirmos a Ele e de nos relacionarmos com nossos companheiros de adoração, descobriremos como tornar nosso serviço de adoração mais significativo. 

Fonte: Diálogo Universitário.

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