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A música e o sobrenatural II

No texto a seguir, Louis R. Torres, ex-baixista da histórica banda de rock and roll Bill Haley and the Comets, descreve experiências com música e ocultismo, apresentando evidências históricas que apontam a origem e a trajetória de elementos rítmicos característicos na música popular contemporânea e sua ligação com o paganismo. 

"India, uma dançarina que excursionava com a banda de rock que eu participei no passado, caiu ao chão com um baque surdo. O cântico africano que estávamos tocando, havia produzido seu efeito. Ela agora estava convulsionando e espumando. 

"Após as convulsões e outros sintomas anormais, India respirou fundo e quedou-se imóvel. Alguns minutos se passaram; ela voltou a si, mas sem poder falar. Ela estava, aparentemente, em um transe. Pegou uma caneta e escreveu uma mensagem de alerta sobre a viagem que estávamos planejando.

"Algumas vezes, quando tocávamos este cântico africano, após passar pelo mesmo quadro convulsivo, India voltava de seu transe falando com uma voz estranha e diferente da sua.

"Conhecendo a forma que India reagia a este cântico africano, tocávamos a música apenas para nos divertirmos com as reações dela. Somente após me tornar cristão, foi que percebi dois fatos a respeito da experiência dela: primeiro, o quão sádicos nós fomos ao explorar a fraqueza dessa garota desafortunada, e segundo, o que India experimentava era uma possessão demoníaca.

"Conforme estudei música e seus poderosos efeitos nas pessoas, minha atenção se voltou para os polirritmos (ou síncopes complexas) que eu costumava tocar com tanto entusiasmo. O estudo dos doutores Bird e Brekenridge revelou que os polirritmos típicos do Rock, Jazz e Blues e outros estilos desse tipo de música, causaram desordens nos neurônios de cobaias de laboratório. Mas o que o estudo não pôde revelar foram as implicações espirituais desse tipo de música. 

"A experiência de India não foi isolada. Milhares de pessoas têm sido vitimadas pela música polirrítmica. A história revela que o uso de ritmos sincopados, com sua habilidade para alterar estado de consciência, descende do Egito antigo. É no Egito antigo que os historiadores encontraram a origem da música de percussão sincopada e seus usos. Nos templos, os sacerdotes utilizavam intencionalmente síncopes complexas para induzir transes e outras perturbações[1].

"Os primeiros percussionistas aprenderam a induzir respostas psicológicas, desde êxtases e alucinações até convulsões e estados de inconsciência[2].

"Essa forma de adoração pagã foi, com o passar do tempo, transportada para a África Central, onde fincou raiz em Duhomy, conhecido hoje como Republica Democrática do Congo[3]. Duhomy (ou Congo) se tornou o centro da religião vodu. Os participantes eram impulsionados pelas batidas rítmicas. Na dança do ventre, ombros, nádegas, barriga e tórax eram separadamente ou simultaneamente sacudidos ou contorcidos, ou movimentados de alguma forma[4].

"Através do comércio de escravos, essa música de adoração ao demônio, com sua batida ininterrupta, foi transportada para a ilha de Hispaniola, no Caribe. Ali, novamente, fincou raízes. Hoje, o vodu continua a ser praticado no Haiti, que ocupa o terço oeste da ilha de Hispaniola, e na Republica Dominicana, que ocupa o restante da ilha.

"Com a continuidade do tráfico de escravos, esse ritmo foi levado para os Estados Unidos, e New Orleans se tornou o lar para o 'rufar' dos tambores e a dança extravagante que o acompanhava. Os turistas brancos foram avidamente atraídos.

"Ao mesmo tempo, enquanto os polirritmos egípcios estavam adentrando no sul da América, um outro tipo de música tinha estado a desbravar seu caminho através do Atlântico para o norte do país. Europeus brancos, desejosos de escapar da perseguição religiosa, trouxeram sua música para a Nova Inglaterra, juntamente com sua religião.

"Enquanto a música pagã era baseada em polirritmos e dedicada à adoração de deuses demoníacos, os europeus trouxeram uma música composta de harmonia e melodia. Sua música melódica simples era usada para adorar o Deus verdadeiro.

"A música cristã européia avançou em direção a oeste e sul dos EUA. Enquanto isso, no sul, a música para adoração vodu estava sofrendo uma mutação. Embora muitos escravos tivessem se tornado cristãos, outros escravos mantiveram suas crenças e práticas pagãs. Muitas de suas práticas pagãs foram oprimidas pelos brancos, mas seus ritmos continuaram a ser utilizados. Quando expostos à música branca, muitos destes escravos detestaram o que parecia a eles como uma música com carência de ritmo. Entretanto, essa exposição à música branca teve seu efeito. Com o passar do tempo, escravos e ex-escravos começaram a misturar a pulsação rítmica tradicional com a melodia e harmonia. Esta mistura tomou forma própria e passou a ser conhecia como “gospel”. 

"No campo secular, os instrumentos de sopro europeus (oboé, clarinete, etc.) começaram a produzir novos sons ao caírem nas mãos dos negros americanos. Esses novos sons eram frequentemente criados como um grito contra a opressão branca.

"O poeta e escritor negro LeRoi Jones observou certa vez que os intérpretes faziam com que os instrumentos soassem deliberadamente “amusicais”, o mais não-branco possível, numa reação à delicadeza e legitimidade que estavam se misturando à música instrumental negra[5].

"Desta nova transformação surgiram novos estilos musicais como Blues e Jazz. A música branca também passava por transformações no norte, onde as “big bands” introduziram novos ritmos aos salões de dança brancos. “Boogie woogie” e outras músicas similares se tornaram a ordem do dia. As mulheres eram arremessadas, rodopiadas e giradas, obedecendo a ditadura do tambor.

"Na arena religiosa, o gospel começou a chamar atenção de alguns brancos. Pessoas como Elvis Presley, que costumava frequentar apresentações de corais gospel de negros, ficou impressionado com o balanço do novo ritmo[6].

"Ao mesmo tempo, novamente no norte, um novo estilo musical estava surgindo. Em meados dos anos 50 o R&B (rhythm and blues) tornou-se bastante popular, não apenas entre os negros das cidades, mas também com os adolescentes e jovens brancos. Imediatamente, os músicos brancos adaptaram os métodos e o vocabulário do R&B aos seus próprios interesses. Em Chester, Pennsylvania, um grupo musical branco, chamado Bill Haley and the Comets (no qual toquei baixo elétrico por algum tempo), adotou o novo ritmo, o que lhe rendeu o título de “O Pai do Rock and Roll”. Impulsionado pelo filme Blackboard Jungle, a versão de Bill Haley para “Rock around the clock” tornou-se instantaneamente um sucesso entre a juventude branca. Promovido por Allan Freed, disc jockey de Cleveland, Ohio, o novíssimo rock and roll tornou-se a norma entre a juventude americana. Ele se espalhou rapidamente para muitos países e, hoje, sua batida incessante é sentida mundialmente. Um tipo de música capaz de transcender a todas as culturas. 

"Durante a década de 50 e começo dos anos 60, muitos dos músicos de rock que haviam crescido nos bancos da igreja incorporaram o novo estilo às suas performances. Sua música pseudo-religiosa, com suas batidas de fundo, foram introduzidas em canções seculares. A música “You saw me crying in the Chapel” cantada por Elvis Presley, “My Prayer” pelos Platters, “People Get Ready, There’s a Train That’s Coming” do grupo Impressions (cujo cantor principal era Curtis Mayfield, um cantor gospel de Chicago), e “He” dos Righteous Brothers, cada uma delas alcançou o primeiro lugar nas paradas de sucesso. Mais tarde, “God Bless You, Please, Mrs. Robinson, Jesus Loves You More Than You Can Know“, de Simon and Garfunkel, e “To Everything Turn, Turn, Turn“ (baseado em Eclesiastes, capítulo 3) do grupo Birds, todas bastante populares, tornaram-se repertório de muitas boates e danceterias. Lembro-me de ter cantado ou tocado estas canções à noite, em bares, boates e danceterias cheias de fumaça de cigarro, bebidas alcoólicas e dançarinas de strip tease.

"No começo dos anos de 70, um fenômeno bastante sinistro começou a acontecer. Uma enxurrada dessa música pretensamente 'religiosa' começou a aparecer dentro das igrejas cristãs. [...] Práticas estranhas, que a Bíblia condena como tradições vãs e idólatras, o que inclui a música usada para preparar pessoas para orgias nos templos, produzindo êxtase e alucinações oferecidas a deuses demoníacos, são agora chamadas de música de Deus, que ninguém é capaz de reprovar."

Fonte: Adventists Affirm. Vol 13, Nº 1. Primavera de 1999, pp. 17-20. via Música Sacra e AdoraçãoTradução: Fábio Araújo Martins – Janeiro de 2005.


"No passado vocês já gastaram tempo suficiente fazendo o que agrada aos pagãos. Naquele tempo vocês viviam em libertinagem, na sensualidade, nas bebedeiras, orgias e farras, e na idolatria repugnante." I Pedro 4:3

"Afastem-se de toda forma de mal." I Tessalonicences 5:22




[1] Pennethorne Hughes, Witchcraft (Londres: Longman Green, 1965), p. 23; citado em Ismael Reed, Mumbo Jumbo (Nova Iorque: Doubleday, 1972), p. 191.
[2] Michael Segell, “Rhythmitism”, Americam Health, Dezembro de 1988, pp. 19, 37.
[3] Marshall Stearn, The Story of Jazz (Nova Iorque: Oxford University, 1956), p. 20.
[4] Louis and Carol Torres, Notes on Music (St. Marie’s, ID: LMN Publishers, 1993), p. 36.
[5] The Sun Herald (Australia), 19 de Março de 1989, p. 148.
[6] “How Blacks Invented Rock and Roll”, Ebony, Janeiro de 1997, p. 56.

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